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Trabalhando em um showroom de luxo em Paris, parte II

Trabalhando em um showroom de luxo em Paris, parte II

Continuando com o relato começado no post “Trabalhando em um showroom de luxo em Paris, parte I, durante meu estágio no showroom Diane von Furstenberg trabalhei muito, mas muito mesmo. Eu fiquei responsável pelo “replanishing”, o que nada mais é do que organizar as coleções de roupas e acessórios no salão para que estejam sempre em ordem e bonitas. Vestimos as modelos num pequeno quarto, daí elas vão para o salão desfilar para os clientes, voltam, trocam de roupa e é  assim o dia todo. 

Passei o dia inteiro levando roupas, sapatos, bolsas e acessórios do quarto de troca para o showroom correndo, pois as araras não podiam nunca estar vazias! E detalhe: cada peça de roupa ou acessório tinha um número e uma letra do alfabeto, sendo que a letra correspondia à arara e o número à ordem em que a peça deveria ser disposta na mesma. 

Imaginem o inferno de ter 50, 60 peças jogadas no chão, salão cheio de compradores, araras semi-vazias e você tendo de correr com tudo, olhar número, letra, achar a arara correta e colocar tudo em ordem cartesiana. Ufa! Cansei só de lembrar! 

Eu começava a trabalhar às 8h da manhã e só parava lá pelas 20, 21h, sempre em pé e correndo. Ajudei a vestir modelos, fiz o “replanishing”, às vezes ficava responsável por fazer café e chá e servi-los aos clientes, fazer bandeijinhas com macarrons e doces para os clientes e para o pessoal de vendas. Em alguns momentos me sentia tão cansada que pensei em desistir, e por vezes pensava o que uma pessoa com a minha formação e diplomas estava fazendo ali, trabalhando de graça em algo bem abaixo do meu nível profissional. 



Mas na Europa, ao contrário do Brasil, esse tipo de trabalho é super bem visto mesmo em quem tem mestrado e fala línguas. As pessoas valorizam muito experiências pequenas. E como o grau de educação na Suíça é elevadíssimo, com montes de jovens poliglotas e com mestrados em boas universidades no currículo, é normal ver garotas trabalhando de vendedora em uma boutique de joalheria pequena ou até mesmo lojas de grife apredendo os macetes da venda direta ao consumidor, marketing, administração e manutenão de um ponto de venda no mercado do luxo como primeira experiência profissional no setor. Enfim, um exercício de humildade.

Enquanto no Brasil ter um excelente currículo na área de business ou comunicação e trabalhar em uma loja seja sinônimo de fracasso ou “falta de sorte” no mercado, aqui isso é visto como experiência válida e necessária, principalmente para quem almeja uma carreira nas citadas áreas. Na Suíça, ter uma boa formação é importante, mas desenvolver habilidades diversas em áreas diferentes da formação acadêmica é ainda mais, pois toda experiência é bem-vinda e bem aceita no mercado. Assim eu, com diploma em jornalismo e mestrado em mídia e comunicação em uma business school privada suíça, adicionei valor ao meu CV ao aceitar trabalhar de graça, por 10 dias, como estagiária de showroom de moda. 

Na visão das pessoas aqui, isso é prova de mente aberta e uma boa oportunidade de aprender algo a mais sobre uma área diferente da minha, lidar com pessoas e exercitar habilidades de comunicadora. Queria que no Brasil também tivéssemos essa mentalidade! Que o nosso mercado de trabalho conseguisse enxergar além do diploma, que valorizasse a experiência extracurricular e que os gerentes de RH conseguissem exergar que mesmo sendo graduado em administração, o sujeito só tem a enriquecer seu currículo com um estágio de verão no setor de música ou mesmo de moda, por exemplo. 

Metrô de Paris

Experiências assim enriquecem o vocábulario, ampliam horizontes e contatos profissionais e, no fim das contas, dão uma visão global de como a área funciona. Um contador que trabalha para uma confecção de moda certamente será um profissional melhor se entender como funciona um ponto de venda ou qual a dinâmica envolvida na preparação de uma ação publicitária. Não falo do cara que pretende tudo saber, mas do sujeito que é especialista em sua área, mas tem visão global do negócio para o qual trabalha. Isso, na Suíça, conta muitos pontos no currículo. É por isso que, se para nós brasileiros ter “n” diplomas, falar línguas e isso e aquilo e fazer um estágio numa mera loja signifique desvalorização profissional, para os jovens aqui é apenas um começo de carreira. Mas voltemos ao showroom.

Trabalhe e shut up
No terceiro dia de showroom rolou uma reniãozinha a noitinha com a gerente de vendas, que estabeleceu algumas normas para o trabalho dos estagiários. Levantei a mão no fim da reunião para fazer uma pergunta. Apenas perguntei a mesma se ela era gerente de vendas, pois seu cargo não havia ficado claro para mim no inicio da reunião. Juro, eu só queria estabelecer um contato, pegar um cartão de visitas… fazer um networking. Fiquei revoltada quando a mesma me disse: “Sim, sou a gerente de vendas. E agora por favor, sem mais perguntas!” 

Me perguntei seriamente o que eu estava fazendo ali.  

Eu aceitei esse trabalho tendo em mente que seria uma boa oportunidade de ter uma experiência – curta que fosse – no mercado do luxo (altamente segmentado, difícil de entrar, mas com boas oportunidades profissionais), e já que a equipe de vendas e marketing estaria no local todos os dias, quem sabe eu não poderia acompanhar alguns projetos de vendas, aprender um pouco sobre negociação nesse mercado, relacionamento com esse tipo de cliente de alto nível de exigência e uma olhada geral no marketing voltado a essa área. Devo dizer que nada disso rolou, pois ficamos tão ocupados em manter o showroom apresentável e em vestir as modelos com os looks escolhidos pelos clientes, que não foi possível essa interação profissional. Aprendi muito sim, mas em outras áreas.

Eu, na Place des Vosges

O fato é que, mesmo se houvesse tido tempo, o pessoal da Diane von Furstenberg no showroom em Paris não estava nem um pouco interessado em compartilhar nada. No fim das contas, eles mascaram esse trabalho com o nome de estágio simplesmente por que precisam de alguém para cuidar de tudo, não têm orçamento ou não querem pagar. Assim atraem jovens recém-graduados, interessados em moda e dispostos a aprender. Técnica de muitas empresas, aliás.

Almoço rolava tarde, isso quando não tinhámos que nos contentar com lanchinhos. E só conseguíamos almoçar depois de muito insistir…. E as modelos coitadas! No salto alto o dia inteiro, fazendo trocas de roupas a cada cinco minutos, morrendo de fome e tendo de fazer carinha de feliz. Todas as meninas reclamaram do atraso do almoço e da falta de pausa para descanso. Nos momentos de pouco movimento, eu ia à cozinha e preparava bandeijinhas com lanchinhos e doces e levava para as modelos. Nessa hora a gente sentava no chão mesmo para descansar as pernas e conversar sobre  qualquer coisa. Teve uma modelo francesa que reclamou geral (e com toda razão) das condições de trabalho e da falta de comida. E quando o almoço chegou nesse dia, veio frio e não tinha microondas. A garota reclamou, ficou puta da vida. Resultado: pasmem! foi mandada embora no dia seguinte. Achei o cúmulo.

Eu, no showroom, cara de exausta

O saldo é positivo
No fim das contas, o saldo foi positivo. Nesses vários dias aprendi um pouco sobre como lidar com pessoas e com suas exigências, estresse e situações de pressão. Aprendi sobre como um showroom funciona, como dispor roupas e acessórios para atrair a atenção do comprador e realçar as qualidades dos acessórios. Aprendi o que é um lookbook e a importância dele na hora de vender para lojas no mundo inteiro. Achei essa parte bem legal, pois tudo o que se faz num showroom nada mais é do que o marketing em estado bruto. É a venda de sonhos e conceitos que vai gerar a venda física do produto. No showroom você precisa vender o conceito da coleção para que o comprador entenda e “compre” a idéia para, mais tarde, vender a coleção em sua própria loja, em seu país de origem. A coleção precisa ser entendida por quem vai revende-la. 

Foi também muito bacana ver de perto as criações de uma estilista de ponta, aprender sobre essa coisa de inspiração, conceito das coleções, cores usadas e público-alvo. E o melhor de tudo foi ver o grande business por trás do glamour das belas fotos de coleções de roupas em revistas. Da criação dos croquis às campanhas de vendas B2B (business to business, ou seja, de empresa para empresas pois é isso que se faz num showroom), existe toda uma cadeia profissional, que além de movimentar milhões em dinheiro, emprega muita gente qualificada e movimenta a economia. 

O melhor de tudo foi que…
…Eu me esbaldei em Paris! Terminei meu trabalho dois dias antes do prazo por não aguentar mais o cansaço de passar 10, 12 horas em pé e comendo mal. Fiquei mais quatro dias na cidade e visitei Paris toda a pé. Foi o máximo! Cada rua uma surpresa, cada curva uma ruela escondida cheia de predinhos centenários, jardins inesquecíveis, cafés charmosos e toda aquela beleza que faz de Paris uma das cidades européias mais bem preservadas em termos de monumentos e arquitetura de época. 

Finalmente pude visitar o Montmartre e seus artistas de rua, Moulin Rouge e Sacré Coeur, lugares que eu não tinha ido nas outras duas vezes em que estive na cidade. Enfim, andar por Paris e conhecer a cidade sem pressa valeu cada dor nos pés e cada café da manhã com pão seco e margarina dura que eu tomei no albergue de 35 euros a diária em quarto privado SEM vaso sanitário, tendo que ir ao corredor do andar de cima fazer pipi no meio da noite! E o barulho da juventude chegando ao albergue às duas da manhã, me tirando do meu soninho merecido.

Fui ao Brasil em abril de 2011 e escrevi um artigo sobre como viajar a Paris gastando pouco para uma revista do Rio. Preciso procurar no computador e assim que achá-lo vou publicar aqui. 

Se eu pudesse resumir tudo isso em algumas expressões, seriam: aula de humildade, exercício de paciência, people skills (técnicas para lidar com pessoas), controle do estresse e profissionalismo. Tirei várias fotos no showroom que, infelizmente, se foram quando roubaram meu MacBook. Na ocasião, eu voltei de Paris com a certeza de que teria um blog de moda. Na época, eu postei esse texto em um blog de viagem que eu mantinha desde 2006 e onde já não escrevo mais.

Mal eu podia imaginar que um ano mais tarde eu voltaria à cidade luz já como convidada de um desfile de moda. Ano passado (2012) eu voltei a Paris, mas desta vez para assistir ao desfile de um estilista finlandês. Isto só foi possível graças ao Passaporte do Luxo, que finalmente saiu da minha cabeça e ganhou vida em junho de 2012.

beijos

Trabalhando em um showroom de luxo em Paris, parte I

Trabalhando em um showroom de luxo em Paris, parte I

Quero contar para vocês como foi trabalhar em um showroom de uma grife de luxo durante a semana de moda de Paris. Em 2011 eu vivi minha primeira aventura na indústria da moda, não como admiradora, mas como trabalhadora. Entre os dias dois e 13 de março daquele ano eu estive em Paris trabalhando no showroom da grife Diane von Furstenberg, durante a Fashion Week da capital francesa. Não recebi um centavo para trabalhar e a passagem e a hospedagem ficaram por minha conta. Ainda assim, acreditem, muita gente concorre a esse tipo de “estágio” e é bem difícil conseguir uma vaga. Foi na rede social dos ricos e VIPs – ASmallWorld – que eu consegui essa oportunidade.

Entre as minhas tarefas, estavam: dar suporte ao time de marketing e vendas, recepcionar compradores que chegavam do mundo inteiro para visitar e comprar coleções, vestir as modelos, repor as roupas nas araras, organizar a entrada das modelos, montar os looks do lookbook, servir café e docinhos, ir  comprar o que me pedissem. 

Enfim, pra resumir: fiz de tudo um pouco, mas principalmente, corri muito para vestir as meninas e repor as roupas nas araras. Gente, é uma loucura, um vestir e despir sem fim, e o showroom não pode de jeito nenhum ficar com aspecto bagunçado. Eram horas em pé, correndo, com fome. Em um shoroom cada peça de roupa é numerada e tem seu lugar específico para ficar pendurada, não pode de jeito nenhum trocar de lugar senão o pessoal de vendas não consegue achar as coleções na hora que os compradores chegam.

Como eu estava sem trabalho na época e sou uma pessoa que estou sempre cavando alguma coisa em algum lugar, numa dessas, vi o diretor de showroom da DFV na rede social ASmallWorld falando dessa oportunidade e não pensei duas vezes: me ofereci para trabalhar e ele me aceitou. O trabalho não era pago, mas, como disse minha amiga americana Candace: “Showroom em Paris durante a Fashion Week para uma grife badalada? Eu te bato se você não aceitar”. Então eu aceitei.

Como pagamento, rolou presentinho fashion (só visualizem a minha vontade de ir direto ao presente).

Foi uma experiência muito válida, mas difícil. Válida por que amo Paris, segundo por que adoro moda, e terceiro por que já fazia um tempinho que eu vinha me interessando profissionalmente pelo mercado do luxo, que em países como França e Suíça é grande e multimilionário, com oportunidades de carreira bem interessantes. Para vocês terem uma idéia, em Genebra existe especialização em luxury management nas universidades privadas. Por fim, difícil por que nem todo mundo é gentil e é preciso uma boa dose de paciência e sangue frio para dar conta de certas personalidades.

http://www.clement-dezelus.com/2012/02/fashion-week-illustree.html

Imagino que muita gente deva estar se perguntando como fiz para ficar em Paris esse tempo todo sem rolar grana. Obviamente não me hospedei em hotel, nem comi fora, a não ser claro, lanchinhos ou um café num bistro. No showroom eles providenciavam comida e bebida. Fiquei num albergue da juventude (hostels), desses para mochileiros. Tive a sorte de conseguir um quarto privativo por 35 euros a diária, com café da manhã. 

Givenchy

Aí coloquei tudo no lápis: café da manhã incluído, almoço e bebidas no showroom, a chance única de ver de perto uma coleção recém-saída do forno ser vendida a compradores do mundo inteiro, além de participar de um grande evento de moda (mesmo sem estar nos desfiles sentadinha na primeira fila, mas um dia eu chego lá!), aprender sobre o fashion business de perto com profissionais do mercado, ganhar um vestido da DFV no fim de tudo e só pagar 35 euros de diária por um quarto que fica a 15 minutos a pé do showroom? Não hesitei nem por cinco segundos. E 35 euros por um quarto privado em Paris, não tem preço! Era a felicidade em estado bruto rsssss! E meu marido deu a maior força!

No próximo post, eu vou detalhar como foi o dia a dia lá no showroom. Nem tudo são flores, e no mundo da alta moda muitas vezes existem mais espinhos que rosas.

Veja aqui a continuação desse post.

Beijos

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