
Entenda como é o trabalho de um designer de iates
Em nossa primeira entrevista aqui no blog, eu conversei com Christian Leyk, um designer nascido em Munique, na Alemanha e que viveu no Brasil até os cinco anos de idade.
Até então eu nunca tinha parado para pensar em como é o dia a dia profissional de um designer de iates. Aliás, eu nem sabia que eles existiam…
Christian estudou design industrial em Munique, trabalhou em Londres e já foi até webdesigner. Mas foi no mundo dos iates privados que ele se encontrou.
Confira abaixo como é ser um designer de iates e o que os clientes do setor esperam desse tipo de profissional.
Passaporte do Luxo – O que é design para você?
Christian Leyk – Para um designer, isso é lifestyle. Ser criativo é uma benção e uma maldição, e depois de um tempo tudo se torna design pra você. Mas é diferente de ser um artista. Artistas projetam-se a si mesmos, enquanto que o design é um serviço: nós refletimos o que é necessário em diferentes níveis e queremos mostrar isso ao mundo.
PL – Como o design pode ajudar a promover um produto ou um objeto como um iate?
CL – Design não pode ser confundido com estilo mesmo que estilo seja uma parte importante do que eu faço. Não é apenas uma questão de fazer algo bonito. Produtos têm de preencher vários requisitos, desde flutuar, no caso de um iate, até meras funcionalidades que irão deixar seus usuário se sentindo bem. Alguns aspectos serão o resultado dos engenheiros, mas muitas das funções intangíveis são de responsabilidade do designer.
PL – Em termos de especificidades da indústria do iate, o que é importante levar em consideração ao projetar uma nova peça? O que os ricos e afluentes querem?
CL – A indústria do iate é um lugar muito excitante para se estar. Nós criamos algo extremamente pessoal e as expectativas são bem altas, pois esses indíviduos são muito exigentes. No lado técnico, iates são protótipos que precisam ser desenhados, construídos, planejados e montados em um espaço de tempo incrivelmente curto, e precisam funcionar como um produto testado e aprovado. O designer precisa estar ciente de que o cliente vai passar seu tempo livre no iate, que é algo extremamente valoroso para ele. O que os ricos querem? Tudo e nada, como todos nós! Bons momentos. Excitação. Aventura talvez… Seja lá o que for, eles vão pagar para ter o melhor e não esperam nada menos que isso.
PL – Você pode nos dar alguns exemplos de design de iates que você considera bons?
CL – Bons designs são designs que fazem o proprietário feliz, e não é sempre o design em si que eu pessoalmente gosto ou considero de tirar o fôlego. O fato que Tom Perkins velejou milhares de quilômetros no “Maltese Falcon” me diz que que este foi um design de grande sucesso. Nesse caso, o iate também foi um marco importante no design de iates. Outros designs incríveis foram o “Eco” (desenhado por Martin Francis) e o “A”, desenhado por Philip Starck. Este último talvez não seja do gosto de todo mundo, mas design, no fim das contas, muda todo dia.
PL – Quanto custaria contratar você para desenhar um novo iate?
CL – Existe um cálculo muito simples: o custo do design se situa entre 5 e 10% do valor total do projeto. Contudo, esses números podem variar bastante, nem tanto por causa do que o designer faz – designs podem ser mais ou menos complexos – mas por causa da escolha do estaleiro e gerenciamento de projeto, que podem fazer um projeto ficar até 100% mais caro. No fim das contas, eu preferiria algo do tipo “o que é válido para você”. Eu não quero ser o designer mais caro, mas um cliente que procura barganhar geralmente não é tão apaixonado por iates como eu gostaria que fosse.
PL – Quais são as novas tendências no design de iates na Europa? Elas diferem muito do que se vê no Oriente Médio e Américas?
CL – Iates para clientes do Oriente Médio sempre foram muito diferentes dos feitos para clientes norte-americanos, e ambos são diferentes do que as pessoas gostam na Europa. No Oriente Médio, o tamanho do iate é determinado pela posição que o indíviduo ocupa na família/sociedade e as pessoas geralmente não ligam muito para espaço exterior. Os interiores são mais coloridos e o layout reflete a cultura deles. O típico iate norte-americano (mercado dos EUA) é menor que o europeu. Iates nos EUA têm decks pequenos e seus interiores são mais aconchegantes, com detalhes como cozinhas estilo campestre. Geralmente, a tendência de grandes iates é de áreas de tripulação cuidadosamente planejadas, sistemas de entretenimento incríveis e uma enorme coleção de “brinquedos” que incluem até submarinos. Há também uma tendência para iates de exploradores, permitindo que os proprietários saiam das rotas de costume e viajem para áreas mais remotas do mundo.
PL – Por que você escolheu trabalhar nessa indústria?
CL – Eu sempre amei o mar. Mesmo que não me lembre em detalhes, sei que cruzei o Atlântico três vezes em um navio antes dos cinco anos de idade. Eu tenho que admitir que iates não eram meu foco durante muitos anos. Estava claro para mim que eu queria ser um designer (também sou muito interessado em design de carros), mas no momento em que eu vi uma revista sobre iates de verdade (quer dizer, iates com mais de 30 metros) percebi imediatamente o que queria e combinei criatividade com barcos.
PL – Quem são seus clientes?
CL – O legal do mundo dos iates é que você encontra pessoas de backgrounds totalmente diferentes. Meus clientes vão de casais mais velhos que estão passando aos filhos os negócios da família, jovens empreendedores que fizeram milhões da noite para o dia, fortunas antigas, pessoas com visão de negócios ou simplesmente gente que adora satisfazer as próprias vontades e podem se dar ao luxo de fazê-lo. Clientes que eu vejo apenas no primeiro e último dia de projeto e aqueles que gostam de dividir o escritório cinco dias por semana. Essas pessoas vêm de todas as partes do mundo
PL – Por que alguém deveria contratar um designer de iates ao invés de comprar um barco pronto?
CL – É perfeitamente natural ir ao showroom da Riva ou Azimut e escolher seu modelo preferido. Claro, sempre é possível escolher extras como o tipo de madeira e materiais do interior. É como ir à Aston Martin ou à Ferrari. Grandes iates, contudo, não são como carros. São mais como casas. Ninguém compraria uma vila de luxo em um catálogo, você provavelmente conversaria com um arquiteto antes. Um grande iate é como uma casa, uma expressão da sua personalidade, ele reflete você. Estamos falando de sérias somas de dinheiro, portanto você vai querer o melhor possível, feito para você.
PL – O que o design diz sobre a pessoa? Que tipo de pessoa procura o quê?
CL – Vamos olhar além do óbvio. Claro que um iate é e sempre será um símbolo de status e com certeza mostra que a pessoa tem sucesso o suficiente para bancar esse tipo de vida. Uma grande vila, carros luxuosos e jatos privados também evidenciam dinheiro, então deve existir algo mais. Algumas pessoas já têm tudo, outras acreditam que um iate é a escolha mais óbvia do estilo de vida dos ricos. Finalmente, existem diferenças entre os tipos de iates: pessoas que amam uma vida mais reclusa e pessoas que amam o mar; há aqueles que gostam de competições e gostam de fazer parte de uma comunidade exclusiva. Para esses, iates rápidos e luxuosos são ideais.
PL – Clientes no Brasil?
CL – Infelizmente ainda não. Acredito que ainda não existam tantos clientes brasileiros no mercado, mas o cenário está mudando. O Brasil é o mercado mais interessante pra mim, pessoalmente falando. E o que o torna ainda mais interessante aos meus olhos de designer é que uma cultura multi-facetada com influências do mundo inteiro, incluindo a Europa. E por causa dessa conexão cultural com a Europa podemos nos relacionar melhor em termos de gostos e exigências.
PL – Para qual milionário ou celebridade você gostaria de desenhar um iate? Como esse iate seria?
CL – Eu adoraria ter desenhado um iate para o Ayrton Senna. Primeiro por que sua paixão e dedicação pelo que fazia me inspiraram de uma maneira sem igual e eu gostaria de tê-lo dado algo em retorno. Sem dúvida seria um iate veloz e teria de ser perfeito também. Teria de ser o retiro perfeito contra o lado barulhento da vida, um escape para ele e para as pessoas ao redor dele.