Esse post vai ser hilário. Prevejo risadas! Já adianto que, por não ter experiência com o Tinder Brasil eu adoraria ouvir de vocês os tipos mais comuns que aparecem no app aí nosso país. A bela aqui está solteira e claro, o Tinder pareceu uma opção em diferentes ocasiões dessa minha solteirice pós-casamento que já dura mais de dois anos. Encontrei pessoas novas. Com alguns saí uma vez e nada mais. Com outros rolou um segundo encontro. Tive um namorado que conheci no Tinder. Mas na maior parte das vezes, é preciso paciência e tempo para encontrar alguém que valha o investimento. Enquanto isso não acontecia, eu dava muita, mas muita risada com os tipos mais comuns encontrados no Tinder Alemanha. Uma coisa é certa: aprendi a identificar logo nas primeiras mensagens se vale ou não a pena prosseguir. Afinal, amigos eu já tenho e se quiser novos não é no Tinder que eu vou procurar. Vamos lá?
O Smalltalker – em inglês, small talk significa conversa fiada, aquele famoso “Que tempo feio hoje, né?”. Esse habitante dos bites and bytes do Tinder não consegue sair do raso, é incapaz – ou não quer – ir além do “Oi linda, tá fazendo o quê hoje?” No momento em que você reage ele te manda de volta uma resposta monossilábica ou um “Que legal”. Acabou conversa, gente! Espere aí uns dois, três dias e lá está o Smalltalker de volta com a mesma conversa rasa, sem graça e entediante. E claro, sempre com os mesmos elogios e perguntas, algo do tipo “Hast du einen schönen Tag?” – Tá tendo um bom dia? em alemão. Alguns chegam ao ponto de enviar esta mesmíssima frase todo santo dia, mesmo não obtendo qualquer reação da nossa parte.
Conselho: ignore. Ou melhor: dá logo um unmatch por que isso aí nunca chegará a lugar nenhum.
O amigo do Whatsapp – Esse cara começa muito bem, tão bem que a gente dá o número de telefone e logo migra a conversa para o WhatsApp. No app do Tinder ele tinha uma conversa legal, foi logo dizendo que queria conhecer e pediu rápido para mudar para o aplicativo de mensagens, pois “não entro muito aqui”. Uma vez no Whatsapp conversa vai conversa vem… e é só isso mesmo! Ele te chama no Whats, elogia tua foto de perfil, comenta no teu status, te conta do churrasco do fim de semana. Nenhuma menção a vocês se encontrarem pra se conhecer. E quando você toca no assunto ele é sempre muito positivo “Claro, vamos nos encontrar sim, quero muito te conhecer”. E morre aí. O que acontece com esse sujeito é o seguinte: ele está conversando e saindo com várias outras mulheres, e pra manter o carrossel de garotas sempre em movimento e ter escolhas, ele fica nessa, te alimenta com textinhos aqui, comentários elogiosos ali, uma promessa de encontro acolá…mas de fato ele não tá interessado em te conhecer. Tudo o que ele quer é te cozinhar ad infinitum para o caso de um dia ele não ter nada melhor pra fazer, aí sim você se torna uma opção.
Conselho: se depois de uma semana o cara continua inventando desculpas pra não te encontrar, deseje boa sorte, explique que gosta de algo mais “real” e bloqueie. Esse tipo tem um talento incrível para nos fazer perder tempo. Quanto antes você se livrar, melhor.
O cinquentão playboy – É impressionante como o ecossistema do Tinder fez surgirem esses tipos que vivem em busca da juventude perdida dos 20 e poucos anos. Eles gostam de ostentar um estilo de vida de alto padrão, as fotos só os mostram em “aventuras” tipo esqui nas montanhas, passeio em cima de um elefante na Tailândia, posando na frente de um carro esportivo na beira de uma praia, tomando vinho num restaurante caro. Esse habitante do mundo maravilhoso do Tinder gosta de variedade, ao entrar na dele você tem de estar ciente de que será apenas mais uma, pois o negócio é “aproveitar a vida”, mais conhecido como: vou fazer você se sentir incrível, te levar pra cama, curtir por um tempo e depois, PRÓXIMA! São homens emocionalmente imaturos que mentem sobre suas reais intenções. Problema: são incrivelmente charmosos, bem cuidados e sabem exatamente o que dizer – e fazer – para deixar uma mulher caidinha por eles. Muitos chegaram aos 50 sem casar e sem filhos. Outros até foram casados, mas por algum motivo acham que não aproveitaram a vida o suficiente e agora, depois dos 50, querem vive tudo de uma vez só. Que bom pra eles, né? Mas se você quer um homem real que te ofereça um relacionamento real, vai ter de dar adeus aos vinhos caros e as viagens de fim de semana uma vez por mês. Esse tipo é mulherengo até não poder mais, e quando passar o frisson da novidade, ele vai te transformar em uma das garotas do livrinho de “boas fodas” dele, aquelas meninas pra quem ele liga de vez em quando pra sair, mas estão sempre em contato pra te manter gravitando ao redor deles.
Conselho: se você gosta e quer uma aventura intensa vai fundo! Mas vai sabendo que tem prazo de validade, e que com esse tipo de homem você só conhecerá da vida dele aquilo que ele filtra e te passa. A vida “real” dele dificilmente fará parte da sua. Ele criou um lifestyle e é dentro desse universo que ele vai te inserir para, depois, te transformar em mais um contato to go for na longa lista de mulheres dele. Se você busca um relacionamento sério, ele não é o cara que vai te levar pro altar, mas não deixa ser uma opção para curtir algo leve e sem compromisso desde que você saiba onde está entrando.
O casado sem sexo – Um dos principais habitantes do país Tinder, esse tipo se diz entediado, preso a um casamento frustrante onde não há mais intimidade entre o casal. Separar? “Não é uma opção”, dirão eles. A julgar pelo número de homens casados no aplicativo eu diria que era pra população alemã estar em franco declínio, já que os casados não fazem mais sexo e, portanto, novos seres humanos não nascerão. Impressionante! Esse cara vai te dizer que é casado, mas que só no papel, pois na prática a relação já era há tempos. Vai propor encontros “discretos” uma vez por semana, ou até algo mais periódico nem tão discreto assim. Se como eu você é uma RAINHA do horário nobre, certamente vai querer estar com um homem que te exiba pra cima e pra baixo na sexta e no sábado à noite, que saia contigo de mãos dadas na rua no domingo de manhã. Spoiler: não vai rolar com esse cara. Ele vai querer te dar as terças à tarde ou no máximo um jantar nas quintas à noite. Você nunca será protagonista. Ele é CASADO, lembra?
Conselho: FUJA!
O cara de pau – Eu diria que esse é o tipo mais comum. Pra resumir é assim, o cara quer te conhecer com esforço ZERO. Zero investimento em você, zero tempo passado tentando te conhecer melhor, zero papo legal pra te conquistar, zero tudo. Ele quer sexo e não quer sequer ter de ser cortês para consegui-lo. Logo de cara ele vai fazer insinuações sexuais, até os elogios dele descambam para a vulgaridade. Em seguida ele propõe que vocês se encontrem – na casa dele claro! E quando você disser que prefere um local público por ser o primeiro encontro, ele vai te chamar de fresca, colocar mil empecilhos e dizer que quer “apenas” conversar com você sem interferências externas. HAHAHAHA sério. O cara quer te levar pro sofá da casa dele sem te conhecer pra conversar, minha gente! Em sua versão mais hardcore ele vai te perguntar se pode ir te visitar na sua casa, isso numa sexta ou sábado depois das 21h, porque né? super normal e tranquilo receber um estranho às dez da noite em casa no fim de semana. Sussa!. Eu dou altas risadas com esse tipo. Tenho umas respostas prontas na ponta da língua.
Conselho: não invista NADINHA em um homem que acha que dividir uma taça de vinho contigo não é algo que valha a pena. Você não é a refeição de sábado à noite e não aceite ser tratada como tal. Deseje boa sorte e dê aquele block com gosto.
O pervertido – Não sei se sou só eu, mas já perdi as contas do tanto de homens que dão match por que querem ser meu escravo. Não tô brincando, não. É sério. São homens cuja fantasia é servir uma mulher, fazer tudo o que elas querem e se deixarem humilhar por ela. Uma vez, de curiosidade, fui encontrar um. Conversamos em um bar e ele logo ficou vidrado, com o olhar fixo em mim, quase que em transe, me dizendo que iria limpar o box do meu banheiro com a língua, lavar toda a minha louça, me levar pra fazer compras e carregar todas as sacolas, servir a mim e as minhas amigas, e que meus comandos eram ORDENS! Me explicou, com uma riqueza de detalhes obscena, tudo o que eu poderia fazer com ele. Gente, eram tantas humilhações as quais ele queria ser submetido que eu perdi totalmente o interesse no cara. Não é minha. Gosto de homem masculino. Entendo que algumas mulheres curtam um cara assim e tals, mas não é meu caso. No fim do nosso encontro, dentro do metrô, ele pediu pra eu dar um tapa na cara dele. Disse que não conseguiria ir pra casa sem isso, estava vidrado, com uma expressão lunática.O cara ficou imóvel e eu tive de fazer o que ele queria….
Conselho: se topar com um desses e a curiosidade falar mais alto, por que não? Sou a favor de novas experiências e de repente vai que você gosta da coisa? Mas se você é uma mulher que curte homens do tipo alfa bem masculinos esquece. Esse cara vai te fazer perder o tesão em cinco minutos!
Eu sempre digo que o Tinder é um ótimo fornecedor de matéria-prima para análise social. E mesmo um encontro ruim do Tinder tem seu lado positivo: a gente descobre cada tipo que nem sabia que existia. Ainda vamos falar mais do aplicativo por aqui. E vocês? Tô louca para ler os comentários de vocês sobre as histórias mais divertidas e bizarras vividas no aplicativo. Contem, contem tudo!
A pandemia de Covid-19 vai passar, mas o mundo que ficará após sua passagem não será o mesmo de antes. E nós, seremos os mesmos ou todo esse caos, morte e sofrimento terão nos feito evoluir? Seremos melhores? Uma coisa é certa: nossa relação com o outro nunca mais será a mesma. Da minha parte, posso dizer que várias pequenas mudanças ocorreram dentro de mim (Clica pra ler 5 lições que essa pandemia tem me ensinado). A primeira delas é que meu senso do coletivo foi ampliado. Eu nunca tinha passado por situações em que pensar no outro fosse imperativo para a segurança de ambos. Agora eu mal consigo me imaginar indo ao supermercado sem máscara! Me sinto nua. Curioso, né?
Por ter passado – e ainda estar passando – tanto tempo em casa me dei conta de que quase tudo na vida pode esperar. Poucas são as coisas que precisam ser resolvidas, respondidas, vistas e entendidas imediatamente. Essa é a verdade. A vida lá fora pode esperar enquanto a vida acontece aqui dentro, no microcosmo pessoal de cada um de nós. E a pergunta que fica é: tanta proximidade com a família, esse recém-adquirido senso comunitário e a sensação de que cada um de nós é responsável também pela vida e pelo bem-estar do outro terão quais impactos no nosso desenvolvimento pessoal no mundo pós-pandemia? Será que tudo isso vai resultar em pessoas mais cidadãs e mais comprometidas com a coletividade?
Na história da humanidade, grandes catástrofes trouxeram consigo evolução e solidariedade, o tal senso do coletivo se solidifica após um período de turbulência. E pra tentar responder a essas e outras perguntas a sugestão é seguir a live ‘Covid-19: estamos mais humanizados e como ficaremos?’, com o sociólogo Fábio Mariano, no dia 27/5, às 18h no Facebook da Unibes Cultural. Volta aqui depois pra discutir com a gente o que vocês acham que vai acontecer com cada um de nós quando tudo isso tiver passado.
Eis que 2020 mudou nossas vidas. E de forma definitiva, eu diria. Estou há dois meses em casa com meu filho. Até o fim de abril tinha trabalho e me virava para fazer home office, cuidar da casa, do meu filho e manter a sanidade diante de tudo o que estava acontecendo ao meu redor. Maio chega e eu, já desempregada como muitos, continuo em casa. Começa a reabertura, mas a creche segue fechada e interações sociais continuam proibidas. Sigo aqui com meu pequeno enfrentando as dores e as delícias do distanciamento social, mas hoje, quero dividir com vocês as lições da quarentena 2020. O que esse período tem significado para mim, e como ele tem afetado minhas emoções, minha maneira de ver as coisas, a maternidade e minha relação com o mundo.
Ok, culpa – a quarentena trouxe culpa! Sim, culpa por ver meu filho sentado horas diante da televisão. Culpa por sentir preguiça de ir caminhar. Culpa por não ter brincado o tanto que eu deveria (ou que pelo menos acho que deveria), porque a mamãe aqui também quer um tempo pra ela depois do trabalho, quer fazer as coisas dela. Culpa por rezar para chegar logo a hora dele dormir pra eu poder finalmente estar sozinha e em silêncio. Mas chegou um momento em que eu decidi que tudo bem eu sentir essa culpa. A culpa bate, eu deixo estar e aceito que sim, não sou menos mãe por dar graças a Deus quando meu filho vai dormir e eu finalmente posso sentar no sofá e não fazer absolutamente nada.
Aceitar a culpa é o primeiro passo para conviver bem – e até se livrar – dela.
A vida pode ser mais simples – e como pode, em todos os sentidos. E a simplicidade também encontra lugar no fato de sermos forçados a nos limitar ao nosso bairro. Pela primeira vez eu ANDEI no meu bairro, descobri áreas rurais que nem sabia que existiam, explorei novas ruas nas minhas caminhadas e percebi que a vida pode – e deve – ser mais local. Isso é também uma forma de viver no e estar mais presente. Aquele sentimento de “urgência” em saber de tudo, de ter assistido a tudo, de ter respondido a todas as mensagens… tudo isso fica em segundo plano. A gente volta ao essencial, que é se alimentar, caminhar, conviver uns com os outros sob o mesmo teto, dormir e acordar todos os dias vivendo uma vida mais simples e limitada.
Tempo é algo relativo – reclamamos muito da falta de tempo, mas o tempo nada mais é que uma percepção e como tal, sua passagem é relativa e varia de pessoa para pessoa. A quarentena me forçou a ficar em casa com meu filho e, depois de seis semanas e já sem emprego, percebi que POUCAS coisas na vida são, de fato, urgentes. A gente vive sem barzinho, sem festa, sem roupa nova e sem o frisson de estar todo dia na cidade. Muitas coisas das quais eu atribuía importância são na verdade insignificantes diante do que estamos vivendo. É um desafio, mas conseguimos. Difícil mesmo é viver somente consigo mesma ou com outra pessoa que necessita da gente em tempo integral. Temos que pausar, parar, desacelerar. Estar PRESENTE, viver um dia de cada vez pois, afinal, a pandemia não nos deixa saber quando e nem se retornaremos à normalidade. Aliás, fica a pergunta: normal era o que era antes ou normal é o que passou a ser agora?
Esse modo de vida mais local, mais presente e menos futuro do pretérito, mais simples e desacelerado seria o novo normal ou um retorno ao que um dia fomos?
Não precisamos de metade do que temos – dá para viver tranquila com 20% das roupas e sapatos que temos. Durante o confinamento, usei praticamente as mesmas coisas toda semana. A maioria das roupas, sapatos e acessórios ficaram intocados. A gente descobre que consegue viver com beeeem menos de tudo. Logo, aquela urgência em adquirir coisas novas vai dando lugar a uma consciência menos consumista. O resultado disso é que nesses dois meses de quarentena eu gastei bem menos dinheiro e consegui chegar ao final do mês com a conta positiva. Sério! Uma tremenda conquista pra mim. Nada de gastar com comida fora, nem com bobagens baratinhas que fazem o dinheiro desaparecer sem a gente perceber. E como acabamos não usando tudo o que temos, a vontade de comprar coisas novas vem e vai embora rapidinho. Fiquei mais seletiva e mais criteriosa com o que compro.
Estar presente no presente – como falei acima, aquela urgência em sair, ver gente, assistir ao seriado do momento, fazer mil planos para o fim de semana. Tudo isso se torna secundário, afinal, que planos faremos se estamos quarentenados sem saber quando poderemos sair? Isso me deixou menos ansiosa e mais presente na minha própria vida. Troco mensagens de texto e faço video calls com um monte de gente todo dia. Voltei a escrever aqui no meu blog com muito mais frequência e passo bastante tempo fazendo vários NADAS.
Estou descobrindo o poder e o deleite de poder não fazer nada a hora que eu quiser.
Efeito localidade – além de ter explorado mais o lugar onde eu moro, por conta da quarentena eu privilegiei o comércio local. Faz dois meses que nunca mais comprei um ovo fora do meu bairro. Mesmo que eu faça compras em uma rede de supermercados grande, o fato de usar sempre a filial do meu bairro é positivo, pois garante que a demanda local continue em alta mesmo em tempos de crise, evitando assim o corte de empregos naquela unidade. Outra coisa: onde moro tem um lago há uns 3, 4 km de distância da minha casa. Acreditam que em dois anos, só fui duas vezes? Sempre tinha um lago mais lindo pra ir ver, em outra cidade, ou “andar nas margens do Isar”, o rio de Munique. Pois, o sol voltou e eu corri pro lago de Germering! Por que será que temos a mania de menosprezar o que tá ali na nossa frente pra ir atrás de algo supostamente “melhor”, “maior”, “mais bonito”? Esse efeito localidade faz com que a gente valorize tudo o que é local. E isso é muito POSITIVO.
E por aí? Divide aqui comigo quais lições a quarentena da Covid-19 está deixando na sua vida.
Hoje cedo, enquanto tomava meu café com meu filhinho de seis anos, resolvi dar uma olhadela no Instagram (me segue lá) e fiquei bem surpresa ao ver um vídeo da Camila Coelho (clica pra ver) falando sobre a vida com epilepsia. Me emocionei e chorei, por que o que ela diz sobre os medos na hora de engravidar é real e eu passei exatamente por isso também. Eu tenho epilepsia desde 2009. Tive minha primeira crise epilética durante o sono, na casa do meu então namorado. Achávamos que era estresse e falta de descanso, pois na época eu fazia mestrado, estagiava o dia todo e ainda tinha um emprego em um bar em fins de noite. Eu morava em Genebra, na Suíça. Nesse primeiro momento foi considerado apenas um episódio único e a recomendação do médico foi ter mais qualidade de vida. Resolvi contar para vocês sobre minha condição por que existe muito mito e preconceito sobre a epilepsia. Com esse relato, quero mostrar que a condição não impede ninguém de ter uma vida normal – a exceção são os casos severos, de pessoas que têm várias crises no mesmo dia, o que as impede de, de fato, terem uma vida normal.
Nos meses seguintes à minha primeira crise me mudei para uma casa no interior, parei de trabalhar no bar, me dediquei exclusivamente à minha tese de mestrado e tinha muito tempo pra descansar, dormir, e planejar meu casamento. Um dia, vendo televisão sozinha na sala, tive uma convulsão. Minhas convulsões são as generalizadas, o chamado “grande mal”, daquelas que a pessoa cai, se debate e perde a consciência. Nove meses haviam se passado desde a primeira, e eu já tinha até esquecido do assunto… Bem, ao chegar no Hospital Universitário de Genebra e ficar em observação por algumas horas o neurologista me informou que, a partir dali, eu não poderia dirigir, não poderia tomar banho de banheira sozinha com a porta trancada, e deveria iniciar imediatamente a medicação anti-epilepsia.
Diagnóstico: epilética. Surtei. Não aceitei. Me revoltei. Neguei. Como eu assim eu com epilepsia?
Não tem histórico na família, nunca tive isso antes… Era junho de 2010. Ao longo dos dois anos seguintes fiz todos os exames possíveis e imagináveis e nada. Não há epilepsia no meu cérebro, mesmo assim eu tenho crises epiléticas. A epilepsia pode ser detectada no cérebro e, em casos graves, tratada com cirurgia. No meu caso não há atividade epilética, nenhum exame jamais detectou qualquer coisa. Um mistério. Pesquisei tudo sobre o assunto e descobri que, infelizmente, a medicina não tem resposta para a epilepsia. Houve enormes avanços no que fiz respeito à medicação, e isso é sensacional, pois permite que milhões de pessoas no mundo possam viver sem convulsões. Mas a raiz do problema, o “por quê” de uma pessoa desenvolver ou nascer com epilepsia, para isso a medicina infelizmente ainda não tem resposta.
Iniciei com uma dose pequena do medicamento e foi tudo bem. Em 2012, meu médico resolveu fazer um teste e parar com a medicação. Dez meses se passaram e nada de crises. Um dia, passando roupa em casa, tive uma convulsão em pé. Caí e bati a cabeça na quina de um móvel! Lembro de flashes, eu sentindo meu corpo pesado, sangue no chão… voltei em mim na cama, meu então marido ao meu lado. Fui para o hospital (por que bati a cabeça, mas crise epilética não necessita de hospitalização). Voltei pra casa e não lembro mais o porquê da decisão, mas não retomei a medicação! Era outubro de 2012, me separei do meu marido por um mês após esse episódio, pois ele me pediu pra sair de casa. Precisava de “um tempo para lidar com tudo”. Voltamos (pois é…) e engravidei em fevereiro de 2013. Tomei muito ácido fólico e estava feliz por estar sem medicação há meses, o que não oferecia risco algum ao feto. Nos mudamos para o Brasil e, aos oito meses de gestação caí na cozinha da minha mãe. Foi minha única crise durante a gravidez. Fui amparada pelo meu então marido e minha mãe. Correu tudo bem, fui ao hospital fazer um check up, mas nada aconteceu. Durante a crise meu marido fez respiração boca a boca, mas não sei dizer se esse procedimento é padrão. Ele ficou apavorado com a possibilidade de perdermos nosso filho. Não tive o mesmo medo, pois estava inconsciente e quando voltei a mim tudo já havia passado.
Meses depois que meu filho nasceu procurei um neurologista e voltei a tomar a medicação. Agora eu era mãe, não podia correr o risco de cair na rua com meu filho no colo. Esse é o problema com a epilepsia: você nunca sabe quando ela virá. Eu posso parar minha medicação hoje e não ter uma crise pelos próximos 10 anos, ou ter uma crise em três dias! Não tem como saber, por isso que tanta gente passa a vida tomando medicação. No meu caso, em 11 anos de diagnóstico só tive um total de 7 crises, algo considerado extremamente baixo pela medicina. Isso dá menos de uma crise por ano. Minha última crise epilética foi há exatos 5 anos, no Brasil. Depois, descobri que tive 3 crises em poucos meses devido à medicação errada. Dessas, duas foram no local de trabalho, ao lado de colegas que não sabiam da minha condição. Voltei pra Europa e desde então tomo a dose correta do remédio. Nunca mais tive uma crise. Tenho autorização para dirigir, e nunca tive qualquer problema de cognição ou efeito colateral do remédio.
O que me ajudou nessa jornada foi ver relatos de pessoas famosas, importantes e até icônicas convivendo com a epilepsia.
Lembro que em 2014 vi uma TEDTalkde um diplomata inglês, Daniel Pruce, que era basicamente o substituto do embaixador inglês na embaixada britânica em Madri, na qual ele fala sobre sua epilepsia e como passou a lidar com a condição no dia a dia. Esse vídeo me inspirou e passei a aceitar que eu não era diferente de ninguém. É que o nome EPILEPSIA ainda assusta muita gente. As pessoas têm aquela imagem do epilético se debatendo no chão, acham que epilepsia é sinônimo de problemas mentais e comportamentais. Afirmo que não. Sou mãe, falo quatro línguas, trabalho, levo uma vida normal. Nunca falei disso antes justamente por causa do preconceito das pessoas. Meu ex marido morria de medo que as pessoas soubessem! E eu acabei entrando nessa, mas não há motivos para se esconder. A Camila Coelho ter falado sobre a epilepsia dela é um grande passo para que todos vejam a condição com menos preconceito. Ter epilepsia faz parte da vida dela, assim como faz minha. Mas isso não nos define de jeito algum. Obviamente a condição traz certas limitações, como o fato de a medicação aumentar as chances de má formação no feto, ou a impossibilidade de dirigir no caso de crises recentes. Mas isso pode ser contornado com a ajuda do médico. E quando controlada, a epilepsia não impede ninguém de ter uma vida normal.
Tenho muita sorte de, apesar de ser acometida pela crise geral, ter tido tão poucas crises. A única coisa que me assusta é a lembrança de voltar a mim desnorteada, com dor de cabeça e amnésia. A seguir, uma lista de pessoas famosas com epilepsia. Vocês vão se surpreender!
Personalidades de ontem e hoje com epilepsia.
Danny Glover, Prince, Susan Boyle, Erik Clapton, Elton John, Agatha Christie, Edgard Allan Poe (escritor norte-americano), Lewis Caroll (autor de “Alice no país das maravilhas”), Lil Wayne (rapper), Michelangelo, Socrates e Aristóteles (filósofos), Van Gogh, Leonardo da Vinci, Dostoievsky, Truman Capote, Napoleão Bonaparte, Beethoven, Isaac Newton, Thomas Edison (inventor da lâmpada) e muitos outros.
Se você presenciar uma pessoa tendo uma crise epilética, certifique-se de que a mesma não bata a cabeça, deite-a de lado para ela não se engasgar com a saliva e espere. A crise geralmente passa em alguns minutos. Depois deixe a pessoa confortável e fique com ela, pois ao voltar da crise geralmente temos amnésia e leva um tempo para recobrar a memória. Não há necessidade de chamar o socorro, a não ser que a pessoa tenha uma crise atrás da outra e não volte a si. Tem ou conhece alguém com epilepsia? Deixe seu relato e compartilhe esse post.
Acabei de ler um livro sobre moda relativamente curto, mas muito, muito eficiente para ensinar o básico da moda de forma simples e bem objetiva. “Moda em pauta“, de Caline Migliano conta não somente a história da moda de uma maneira bem geral, mas também te ensina coisas básicas que eu mesma nunca tinha lido em livro algum. Por exemplo: você saberia me dizer qual o ciclo por trás da roupa que a gente compra na loja? Como aquela roupa passou a existir? Quem definiu as cores, o modelo, o corte, o tecido? E baseado no quê essas definições foram feitas? E mais: de onde vêm as ideias para criar roupas novas, as chamadas tendências? Qual a diferença entre gabardine e lurex? Aliás, me diga aqui três tipos de tecidos naturais e três nomes de tecidos sintéticos. Confuso? Nem tanto, o livro é bem explicativo e fácil de entender até para iniciantes.
O prefácio do livro foi escrito pela consultora de moda Ana Vaz, amiga de longa data da autora, cujo trabalho você pode acompanhar pelo Instagram. Não importa se você é um estudante de moda, uma blogueira ávida pelas últimas tendências, ou apenas uma leiga no assunto. “Moda em pauta” tem uma linguagem acessível a todos, trata a moda pelo que ela realmente é: um business. E dos grandes!
Um ponto forte do livro é o capítulo 2, que traz um glossário sobre termos de moda. Ideal para quem ainda se perde com termos como “evasê”, “chemise”, “cropped”, entre outros. E tudo com ilustrações para gente aprender de vez que cropped é o top, e a saia é midí, e não o contrário! Já o capítulo 3 faz um rápido passeio pela história da moda.
Gente, é muito interessante ver como a moda, ao longo das décadas, influenciou comportamentos, e vice-versa. El
a dá o contexto histórico, fala da estética, dos nomes da época e mostra uma figura que simboliza aquele período. Achei bem didático.
Além de empregar milhões de pessoas, a indústria da moda gera empregos em áreas correlatas, como o jornalismo de moda, outro tema abordado no livro. Como apurar uma pauta de moda? No que prestar atenção em um desfile, quais perguntas fazer aos estilistas, como olhar as roupas da marca para entender o conceito por trás da coleção, o trabalho de pesquisa feito e informar bem seus leitores escrevendo um ótimo texto? A resposta para essas e muitas outras perguntas você acha no capítulo 3 – A redatora de moda – do ótimo livro de Caline Migliano. Depois de ler esse capítulo você vai se sentir mais confiante pra escrever um texto de moda. Pra mim, que estudei jornalismo, o capítulo seguinte não trouxe muitas novidades, mas pra quem não faz ideia de como estruturar um texto ele será muito útil.
Minha dica: guarde o livro para futuras consultas. Ele contém termos, contexto histórico, nomes e dicas valiosas que a gente precisa ter sempre à mão na hora de trabalhar com moda. Seja entendendo a diferença entre um tecido e outro, seja sabendo o que perguntar sobre uma nova coleção, seja na hora de escrever bem e informar os leitores. E hey! Esquece essa de “ah, o mercado da moda é ruim”. Como diz a autora no fim do livro, “..sempre tem vaga, sempre tem trabalho para quem é bom e para quem quer”. Eu acredito nisso, e você?
Livro: Moda em Pauta
Autora: Caline Migliato
Ilustrações: Andreza Setúval
Baixe o livro gratuitamente AQUI
A dificuldade em sermos nós mesmas em um mundo que insiste que sejamos iguais os outros.
Na minha viagem ao Brasil em maio, a Marcella, assessora do blog organizou vários ensaios fotográficos para produzirmos um material visual bacana para o Passaporte. Em um desses ensaios eu tinha de posar de calcinha e sutiã, o que já me deixou incerta horas antes. Mesmo nos ensaios de moda e beleza a insegurança foi alta. Afinal, após quase seis anos sem usar um bíquini eu iria ter que mostrar minha “mom belly” (barriga de mãe) na frente de um monte de gente. Os ensaios rolaram, não sem eu ficar envergonhada, tímida e procurando “desculpas” para o estado do meu corpo. Ser eu mesma com o corpo que tenho foi uma tarefa e tanto. Como pode ser tão difícil simplesmente sermos quem somos?
Voltei pra Munique e, semanas depois, as fotos chegaram. Na ceara de imagens algumas me chocaram. “Meu Deus, que barriga feia”, “Nossa, e essas estrias?” me questionei. Mas ao mesmo tempo tentava entender o por quê de eu me sentir assim, e comecei a me perguntar coisas que nunca havia me perguntado antes. Afinal, por que diabos a gente precisa sentir vergonha do que nosso corpo mostra? Meu corpo mostra que fui mãe, eu, Ana Paula, que sempre fui magérrima dei à luz a um bebê imenso de quatro quilos e meio e 53 centímetros. Meu corpo produziu algo incrível: uma pessoa! Isso, em hipótese alguma, deveria ser razão para nos sentirmos constrangidas. Pelo contrário! Nosso corpo carrega a nossa história, e negar nosso corpo é negar o que somos e o que vivemos. Eu gerei uma criança, a barriga esticou demais, depois encolheu. O resultado é uma barriga de mulher que deu à luz um bebezão, uma mãe, uma mulher possível.
Olhei novamente para aquelas fotos e disse pra mim mesma: “Esta sou eu, esta sou a pessoa que posso ser. Uma mulher real, com barriguinha e celulite que posa de lingerie, e não se esconde com vergonha de ser uma mulher real”. Antes de as fotos chegarem eu havia considerado a possibilidade de não publicá-las, acreditam? Se você é blogueira precisa ter o corpo de blogueira, a make de blogueira, o look de blogueira, o lifestyle de bloqueira, certo? Errado. Antes de ser uma bloqueira eu sou um indivíduo vivendo minha vida e lidando com meus desafios e limites pessoais. Mas e então, cadê o tal empoderamento, a tal autoaceitação que tanto pregamos? Pensei bastante sobre isso. Sou uma pessoa que tenta viver o que prega. Se eu falo de aceitação eu preciso começar a me aceitar melhor. Não é fácil ser quem somos em um mundo que insiste em nos mostrar que é preciso ser igual os outros: malhar como os outros, se maquiar como os outros, ter o corpão sarado dos outros. Está cada vez mais difícil sermos nós mesmas, mulheres possíveis, mulheres reais.
Tenho um filho de cinco anos, um emprego em tempo integral, uma vida pra levar. Nem sempre tenho tempo de me arrumar como gostaria (adoraria, pois amo maquiagem). Então tem aqueles dias que a gente tá montadinha, capricha no visual, e tem aqueles em que não sobra tempo para muita coisa. Basicamente o que quero dizer aqui é: culpe-se menos e aceite-se mais.
Eu gosto de me vestir bem, de ter um rosto e um corpo legais, mas eu gosto também de ser uma mulher possível. E ser uma mulher possível significa aceitar que, dentro da minha vida hoje, eu preciso lidar com as limitações de ser uma mulher real. Essas limitações incluem acordar cedo para levar o filho na creche e ir trabalhar, chegar cansada à noite, cozinhar, ficar com o filho e tentar escrever no meu blog. A tal pausa para feminices acontece sim, mas é curta, se tornou secundária diante dos desafios de ser uma mãe separada vivendo em outro país. A mulher que eu sou é a mulher que eu consigo ser vivendo a vida que eu escolhi viver. É esta mulher que é possível que eu seja. Uma mulher que às vezes tá maquiada, às vezes não, que sai na rua com a aquele cabelão crespo de leoa, outras vezes com um coque desarrumado, porque faltou tempo pra ajeitar os fios. E aceitar que somos a mulher que a nossa vida possibilita que sejamos é libertador. A gente fica mais leve, foca nossos esforços naquilo que realmente importa, fica menos suscetível à críticas, não deixa que body shaming e padronização mexam tanto com a nossa autoestima. Faz um bem danado.
E para celebrar, aqui estão algumas fotos do corpo da mulher que me tornei. E aí, vamos deixar aquela mulher impossível de lado e focar na mulher real que somos? E vocês, como anda o relacionamento com o corpo? Comenta aqui e deixa sua opinião sobre o assunto.
Cresceu na periferia de São Paulo, mudou para a Suíça, depois França e atualmente mora com seu filho em Munique, na Alemanha. Sempre antenada e buscando o melhor de cada destino, adora partilhar suas experiências com pessoas, explorando o mundo feminino, da maternidade, beleza, moda e decoração. Acredita que luxo é viver com criatividade.
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SOBRE o PL
O Passaporte voltou, sempre interagindo com seus seguidores, com dicas e informações do mundo da moda, beleza, turismo e decoração, com um olhar de quem vive buscando o inusitado!