É sabido que muitas empresas ainda têm problemas em contratar mulheres que são mães, inclusive algumas sequer querem contratar mulheres. A própria ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, foi questionada por um radialista sobre seus planos de engravidar e ficar de licença durante sua gestão, algo que jamais seria perguntado a um homem. A gente torce – e trabalha – para essa realidade mude. De acordo com a Corporate Women Directors International, na América Latina, menos da metade das 100 maiores empresas (apenas 47) conta com pelo menos uma mulher nos conselhos de administração. Ainda bem que essas empresas não são a maioria, mas ainda que a presença feminina no mercado de trabalho seja alta (43% de acordo com o IBGE) não podemos fechar os olhos para o fato de nós, mulheres, temos necessidades diferentes. E agora ainda mais com a pandemia do coronavírus e as mudanças trazidas por ela. Empresas mais avançadas e com uma filosofia de trabalho mais igualitária sabem disso. Quando se trata de mulheres, vida profissional, maternidade e pandemia neste ano de 2020 se entrelaçam. Mas o quê, de fato, as empresas podem fazer para apoiar as mulheres na maternidade, principalmente agora nesse período tão incerto?
Eu sou mulher, mãe e trabalho aqui na Alemanha. Na empresa onde trabalhava existia muita consideração pelo fato de eu às vezes ter de sair mais cedo ou chegar mais tarde. Mas isso não era o suficiente. Eu trabalhava todos os dias das 09h às 18h, nunca podia buscar meu filho na creche e passava pouco tempo com ele durante a semana. Cheguei a negociar fazer home office duas sextas-feiras por mês, assim eu poderia dar a meu filho a alegria de ser pego pela própria mãe ao menos de vez em quando. Nunca aceitaram. Eu podia fazer home office esporadicamente em caso de doença ou outra necessidade, mas nunca de forma estruturada. O que isso nos diz? Em primeiro lugar que muitas empresas ainda não entenderam que mães têm necessidades diferenciadas, que trabalhar de casa de vez em quando é bom pra todo mundo, principalmente para a funcionária que passa mais tempo com o filho, fica mais feliz e produz mais e melhor.
Bem, a pandemia deste ano veio e mudou tudo. Quem antes não queria autorizar as funcionárias a trabalharem de casa agora se viu forçado a adotar o home office. E nessa de trabalhar de casa, ser mãe ou não ter filhos se tornou irrelevante para as empresas.
O temido risco de chegar atrasada todos dias, de ter de sair mais cedo com frequência ou de não ir trabalhar perdeu espaço. De casa, mulheres conciliam maternidade e trabalho de forma mais justa e organizada, dividem melhor seu tempo e podem dedicar mais tempo aos filhos. Mesmo que ter as crianças em casa o tempo todo represente um certo nível de estresse durante a quarentena. Mas nem todas as empresas eram fechadas para as necessidades das mães. É muito bom saber que tem empresas que levam a maternidade em consideração e criam políticas específicas para funcionárias com filhos. Como as empresas podem apoiar – e ajudar as mulheres na maternidade?
Mudanças na cultura corporativa
Não adianta se dizer igualitária se a cultura corporativa da empresa incentiva homens em posições de chefias e mulheres em posições subalternas pelo fato de as mesmas terem filhos, engravidarem e saírem de licença-maternidade. Na última empresa em que trabalhei senti que havia um pouco isso, vira e mexe ouvia do meu chefe “Sei que você tem um filho, mas é importante estar aqui todos os dias às 09h…” Não durei nem três meses nesta empresa, pois não gostei do ambiente de trabalho.
Ampliar a licença-maternidade e paternidade
Aqui na Alemanha, o “Elternzeit”, que pode ser traduzido como “tempo dos pais”, o equivalente a nossa licença-maternidade varia de um a três anos. Em 2008, o Programa Empresa Cidadã ampliou de quatro para seis meses a licença-maternidade aí no Brasil. Mas se considerarmos que muitas mães amamentam por um período bem mais longo, esses seis meses são suficientes? A licença-paternidade também passou de 15 para 20 dias. Mas a adesão ao Programa Empresa Cidadã é opcional ou seja: não é lei.
Aleitamento materno
E já que amamentar pode ir muito além dos quatro meses de licença garantidos pela lei, que tal as empresas criarem salas específicas para o aleitamento materno? E caso isso não seja possível, ao menos um ambiente preparado para as mulheres extraírem leite e o guardar com segurança até o momento de irem para casa.
Jornadas de trabalho adaptadas
Algumas empresas já entenderam que a maternidade – principalmente a volta ao trabalho após o nascimento do bebê – é um período bastante delicado e conturbado. Por isso, multinacionais como Volvo e Novartis têm programas de volta ao trabalho com carga horária flexível, jornada reduzida e home office parcial nos primeiros meses.
Auxílio financeiro
Oferecer às funcionárias um suporte financeiro em forma de auxílio-creche é uma ótima ajuda, pois muitas mulheres precisam pagar para alguém cuidar de seus filhos enquanto trabalham. E se a funcionária já ganha pouco, o que resta no fim do mês depois do gasto com uma pessoa para cuidar do filho, muitas vezes nem compensa a mulher trabalhar fora. No meu caso, aqui na Alemanha todas as famílias recebem uma bolsa-criança do governo até a idade de 21 anos, independente da classe social. É uma senhora ajuda para cobrir gastos com creche, alimentação e escola, e embora não seja oferecida pelas empresas, mostra como políticas públicas também podem entrar na jogada e dar um pouco mais de fôlego para as mulheres com filhos.
Home office durante a pandemia
Empresas precisam entender que trabalhar de casa com crianças 24h por dia em casa não é fácil. Por isso, neste período de pandemia, muitas vezes os melhores horários para trabalhar são depois das 20h, quando os pequenos vão pra cama, ou muito cedo, antes de eles se levantarem. Daí a necessidade de negociar prazos e entregas diferenciados. Por exemplo, o horário das 08h às 12h é conturbado para mães que estão de home office com os filhos em casa. É hora de café da manhã, organização da casa, definição do que farão as crianças e do almoço. Já o período da tarde, das 14h às 18h é mais tranquilo, com as crianças vendo TV ou fazendo alguma atividade no tablet para dar um sossego e as mães poderem trabalhar. Compreensão é o segredo aqui.
Na sua opinião, o que mais está faltando as empresas fazer para apoiar as funcionárias que são mães? Já teve alguma experiência profissional ruim por ser mãe? Responde aqui pra mim.
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