Já se perguntaram como ficarão nossas relações sociais em um mundo ameaçado por um vírus que não escolhe idade, classe social, raça ou sexo?
Aqui na Alemanha, onde moro, as pessoas são naturalmente mais reservadas e individualistas. O espaço físico individual é algo levado bastante a sério por essas bandas. No Brasil somos diferentes, gostamos da proximidade física. O toque, o contato físico, faz parte da nossa cultura como povo e do nosso jeito de ser. Quem nunca saiu de uma loja e, após um ótimo atendimento, abraçou ou deu três beijinhos na vendedora? Eu já! Isso aqui na Alemanha seria algo impensável! Você não interage com um estranho com esse nível de intimidade e proximidade física, embora as pessoas sejam amigáveis e bem educadas. Por isso, fica a questão: como fica a interação social depois da pandemia do coronavírus?
Mesmo na Alemanha ela já mudou. Agora todo mundo procura ficar a pelo menos um metro e meio de distância um do outro, sem nenhum tipo de toque físico, e isso mesmo entre conhecidos. E aí no Brasil, será que vamos incorporar esses novos comportamentos a nossa cultura social? Você acha que o coronavírus vai tornar o brasileiro menos caloroso em suas interações sociais? O distanciamento físico vai se traduzir também em distanciamento afetivo no âmbito das relações sociais? Na hora de apertar as mãos, sentar muito próximo a alguém sem máscara e até no trabalho, será interessante observar como esses meses de pandemia terão moldado nosso novo jeito de ser e interagir com as pessoas, e como tudo isso vai se adaptar à nova realidade do mundo. Mas se a gente considerar que uma boa parte da população brasileira não pôde fazer quarentena da forma recomendada, muitos tendo de pegar ônibus lotado e conviver em casas pequenas com um grande número de habitantes, talvez essa mudança não tenha tanto lugar como está tendo em outros países.
Eu não acredito que todos os países do mundo passarão por mudanças profundas nesse sentido. Creio que em alguns lugares elas serão mais visíveis que em outros. Em países como a Alemanha são menos perceptíveis – embora estejam lá – do que em lugares como o Brasil. E haverá também culturas que não mudarão absolutamente nada e seguirão a vida como antes. Seria o Brasil um desses lugares?
Ninguém quer viver sozinho
Não podemos esquecer um outro ponto importantíssimo: as quarentenas estão mostrando a importância da interação social, o quão vital é manter contato físico com outras pessoas. O ser humano não nasceu para viver sozinho, e a pandemia do coronavírus está deixando isso bem claro. Precisamos uns dos outros para sobreviver, seja por questões práticas do dia a dia, como contratar um serviço de terceiros, seja por questões de cunho emocional, mental e espiritual. A verdade é que desde os primórdios da civilização vivemos em tribos, e cortar esse vínculo se mostrou difícil e doloroso. Somos animais sociais. Sob esse ponto de vista, um efeito positivo do distanciamento social seria a nossa percepção sobre a importância que as interações sociais tem nas nossas vidas. É aquilo, né? A gente só sente falta do sol quando passa um período longe dele.
Pra concluir, que tal enxergarmos esse período como um um ensaio para buscar relações mais fortes e focadas nas pessoas? Que tal aproveitar esse período para, mesmo à distância, fortalecer seus vínculos com as pessoas importantes na sua vida? Nesse momento, estamos privados da maioria das distrações que nos fazem adiar encontrar aquele amigo querido, aqueles motivos que sempre arrumamos para não ir visitar a tia, ler um livro para os sobrinhos (e eu falo sobre leitura infantil nesse outro post aqui)… Neste momento dá pra focar mais nas pessoas, seja por texto, telefone ou vídeo chamada. Converse, pergunte, interaja, se interesse pelas pessoas e mostre que a distância não é empecilho. O ano de 2020 tem sido um grande desafio, mas com a atitude certa a gente consegue transformar problemas em oportunidades de crescimento pessoal. E quem sabe lá na frente a gente reabra as portas – e os braços – para acolher o outro – e o planeta – de forma mais presente e madura.
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