Fazendo as pazes com a bagunça infantil na quarentena
Ao escrever esse post, estou há exatos dois meses em casa com meu filho. Durante esse tempo, foram muitos altos e baixos: medo nos momentos de alta da pandemia, apreensão, perda do emprego, estresse, sensação de estar presa. Tudo isso somado ao fato de ter de trabalhar de casa todos os dias com uma criança de seis anos, fazer as tarefas de mãe e dona de casa e me preocupar com minha família e amigos no Brasil. Ufa! mas uma coisa me chamou a atenção: a mudança na arrumação da casa.
Diferente dos dias normais, em que meu filho vai para a creche de manhã, volta à tarde, brinca em seu quarto e depois vai ver um desenho, agora cadeiras, carrinhos e brinquedos estão na sala como parte da decoração. E estão lá de forma permanente, sem pedir licença. Nenhuma criança que está presa 24h por dia em casa consegue se restringir ao quarto. Resultado: carrinhos pelo chão, livros e revistas pelo sofá, pelúcia, lousa e apetrechos um pouquinho por todos os cantos da casa.
Se em dias normais eu mantenho tudo sob controle e ensino meu filho que as coisas dele devem ficar no quarto dele, agora eu aprendi que, em tempos de confinamento, ele tem todo o direito de reivindicar o resto da casa. O segredo é relaxar e fazer as pazes com a bagunça infantil na quarentena.
Não é exatamente uma bagunça. É simplesmente uma casa com criança.
Mas resolvi fazer as pazes com tudo. E sabe como? Eu agora olhos os brinquedos como parte da decoração. A cadeirinha fica no meio da sala, a lousinha, o Mickey de pelúcia no sofá, os carrinhos enfileirados no chão. Aceitei tudo como parte da paisagem. E você deve fazer o mesmo. Por que? Porque não dá para cobrar normalidade de ninguém sob as atuais circunstâncias. Sabe que muitas vezes minha casa nem parece que tem criança de tão arrumadinha que é? Me dei conta de que isso sim que é estranho. Não digo que casa com criança tem que ser bagunçada, falo do fato de nunca ter brinquedos ou nada que lembre criança nos outros cômodos da casa. Daí fiquei pensando no impacto que isso deve ter na cabeça dos pequenos. A casa é também um espaço deles, mas a gente, em nome da ordem e da arrumação, os confinamos ao quarto.
E fui em busca da opinião de um especialista para tirar essa dúvida. A psicóloga especialista em atendimento terapêutico com crianças, Vitória de Fillippi, (e que você pode acompanhar as dicas incríveis para essa quarentena no @vfilippi.psi) explicou que “Assim como os adultos, crianças também querem se relacionar com todos a sua volta com dignidade e respeito e, principalmente, querem ser aceitas, se sentir parte de um ciclo ou de um ambiente. Mandar, gritar, manipular, ser muito rígido ou muito permissivo não são formas de educar embasada nesse respeito e dignidade. Ser aceito significa sentir-se importante na configuração do campo familiar, por exemplo: escolher, dentre as possibilidades dada pelo adulto, onde colocar devido brinquedo ou objeto e ser co participante do funcionamento e regras da casa.
Os adultos podem oferecer escolhas possíveis dentro das regras e deixar que a criança faça a escolha, mas sempre com o apoio de todos envolvidos! Isso significa dar aos pequenos a oportunidade de praticar habilidades alicerçadas no respeito mútuo, na cooperação e no foco de soluções. Ao fazer isso, a criança compreende que faz parte, que contribui, e que possui responsabilidades perante o meio.”
Interessante saber que não é um problema também, mas essa é uma das mudanças que a quarentena me proporcionou: estou bem mais relax com a chamada “bagunça infantil”. Meu filho tem direito ao mesmo espaço da casa que eu. Eu o ensino a catar os brinquedos e guardar, limpar a sujeira e tudo, mas não tenho mais problemas em olhar pra sala e ver os objetos do universo infantil compondo a decoração da casa. Aceitei e me sinto bem com isso. É bom ensinar às crianças que tudo deve estar no seu devido lugar, mas mostrar pra eles que o espaço de convivência familiar deve ser dividido de forma igualitária também é importante. Nesse sentido, a quarentena me deixou menos individualista.
E você, como anda a “bagunça” dos filhos por aí?