Hoje em dia a definição de luxo muda com frequência e de acordo com o poder aquisitivo, classe social e geografia das pessoas. Eu conheço muita gente para quem o luxo é uma peça de artesanato feita por índios do Pará, ou uma bijuteria brasileira confeccionada com semente de guaraná.
E isso é luxo por que eles valorizam muito coisas feitas à mão, de um lugar específico, de uma cultura local. Enfim, valorizam coisas que não existem em seus países de origem.
Quando fui ao Benin, na Àfrica, em 2008, com um grupo de profissionais de imprensa, duas moças de um pequeno país europeu chamado Moldávia nunca tinham bebido água de coco ou visto o próprio coco. Elas ficaram encantadas, tiraram muitas fotos e nos próximos dias beberiam o precioso líquido em toda e qualquer oportunidade. Para elas, aquilo era o máximo do luxo.
Óbviamente que, sendo a Suíça uma das principais destinações de luxo do mundo, o luxo aqui é plenamente desenvolvimento e de jeito nenhum se resume aos exemplos que eu dei acima.
Na Europa, o luxo está ligado à exclusividade, àquele sentimento de se sentir especial, único. Logo, a indústria de serviços de luxo por aqui é complexa e bem estruturada. São empresas que oferecem todo o tipo de serviço personalizado, de reserva de bilhetes de avião à entrada nos bares, clubes e festas mais exclusivos do mundo. E muita gente paga por isso sim, pois são pessoas acostumadas a um padrão de vida no qual não cabe fazer as coisas como todo mundo faz, é preciso que eles se sintam especiais, privilegiados.
Por que alugar um chalé nos alpes suíços – algo relativamente comum aqui nos meses de inverno – quando você pode não apenas alugar um chalé no resort mais caro, com chef gourmet cinco estrelas, mas também com serviços como motorista, limpeza, babá e somelier 24 horas por dia? É disso que estou falando. É baseado nesses sentimentos – se sentir especial, privilegiado, único e exclusivo – que a verdadeira indústria do luxo calca seus produtos, serviços e até mesmo cursos superiores.
No Brasil, diferentemente, percebo que luxo tem muito mais a ver com preço. Se é caro, então é luxuoso, eu quero. Creio que este seja o primeiro estágio de um setor que está começando a dar passos maiores em nosso país. A próxima etapa é o desenvolvimento do luxo como conceito de estilo de vida, e não apenas o luxo como aquisição de bens materiais de alto valor agregado. É claro que vestir-se bem, usar uma bolsa Chanel, dirigir um bom carro e viajar para lugares incríveis é bom e serve de combústivel aos sonhos de muita gente, mas resumir o luxo a isso é no mínimo limitar um setor que bomba mesmo em tempos de crise. Vender luxo é vender sonhos. E quase todo mundo sonha.
Para mim, luxo vai muito além de um Maseratti ou da suíte presidencial do Copacabana Palace. Depois de mais de seis anos vivendo na Suíça, o meu conceito de luxo tem mais a ver com estilo de vida e “art de vivre”.
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Interior de uma limo. Foto Buzznet |
Mas o luxo precisa ser apreciado, e não é todo mundo que sabe fazê-lo. Muitas vezes ele não custa dinheiro e nem vem embrulhado em laço dourado. Por exemplo, eu acho que andar pelas ruas de Genebra e beber, de graça, a água das centenas de fontes espalhadas pela cidade é um luxo sem preço. Essa água vem das montanhas suíças e fora daqui, pessoas pagam muito dinheiro por ela. Outra coisa que eu considero um luxo é o fato de nesse país mesmo o cidadão que é caixa de supermercado poder viver de forma digna (viver de forma digna e ter uma vida de luxo são coisas bem diferentes, que fique claro), é o fato de eu, mesmo na minha época de estudante/babá/survival jobs, poder pegar um ônibus e passar o dia esquiando a 30 minutos da cidade.
Elevando o luxo a um outro patamar, luxo para mim é a liberdade de poder ser você mesmo, é ter informação para trilhar seu próprio caminho, é escolher pagar dois mil reais em uma bolsa por que VOCÊ achou aquele item bonito, por que combina com seu estilo, e por que ela vai perfeitamente bem com aquele vestido de 40 reais e aquelas sandálias do verão de quatro atrás que você não cansa de usar. O contrário disso seria pagar tanto dinheiro em algo só para sair por aí exibindo um logo, um diagrama, um nome que, imagina-se, traz status e cria uma aura de riqueza em volta de quem usa.
Luxo é ser verdadeiro com você mesmo e fiel aos seus princípios, seja na moda, na vida pessoal ou nos negócios. Luxo é viver bem e ser feliz com suas escolhas, sejam elas um carro de 500 mil reais ou uma mudança de carreira aos 45 minutos do segundo tempo. O contrário disso não é luxo, é a falta dele.
bisous.
A-D-O-R-E-I!!!! Também creio desta mesma maneira! Morei 5 anos no Reino Unido e sei bem do que voce está falando. Excelente post!
Kisses
Olá
Obrigada por ler o blog. Você certamente sabe bem do que falo por já ter morado no UK.
beijos e volte sempre.